Houve uma grande tristeza por parte dos fãs de Harry Potter no desfecho da saga do bruxo nos cinemas com As Relíquias da Morte – Parte 2 (2011). Era o fim de uma epopeia fantástica que começou em 2001 e durou por mais de uma década. De lá pra cá os fãs aguardavam ansiosos por um retorno as telonas. Naturalmente, Warner e autora também estavam atentos a esta fonte, aparentemente inesgotável, de dinheiro. Eis que em 2013 tivemos o anúncio de Animais Fantásticos e Onde Habitam. Os que leram o livro ficaram curiosos, afinal, como seria uma adaptação cinematográfica de um livro que era em essência descritivo e sem uma aventura central envolvida?
Mas, não havia razão para preocupação, afinal, a própria J.K. Rowling estaria (e esteve) a cargo do roteiro do filme. Outra razão para se empolgar é que a direção ficou a cargo de David Yates, já calejado de tanta experiência no universo fantástico criado por J.K, afinal, dirigiu os últimos 4 filmes da saga Harry Potter. Uma adaptação com no mínimo uma boa direção e roteiro estariam garantidos. Mas, ainda restava a dúvida: quais personagens estrelariam essa nova saga?
A solução pude conferir neste último sábado. Temos aqui um prequel que se passa 70 anos antes das aventuras de Potter. Em uma Nova York no início da década de 20 em um delicioso clima noir. Este estilo de narrativa faz certo sucesso entre adultos e faz sentido nessa nova incursão no universo fantástico dos bruxos. Afinal, os livros começaram sua distribuição aqui no Brasil em 2000 (1997 originalmente na Inglaterra). De lá pra cá já se passaram 16 anos. E da mesma forma como vimos os últimos filmes da saga original ganhar ares mais “adultos” e dramáticos, vemos isso aqui também: uma aventura madura.
O personagem principal é Newt Scamander interpretado pelo excelente, e ganhador do Oscar, Eddie Redmayne. Um ator completo que encarna o Magizoologista (estudante de animais fantásticos) de forma magistral. É um carisma ímpar e que gera simpatia imediata, logo em sua primeira aparição. Scamander chega em Nova Iorque com um objetivo simples de levar um dos animais fantásticos do título ao Arizona e acaba se metendo em uma grande confusão ao ter sua mala trocada com o alívio cômico Jacob Kowalski (Dan Fogler). A premissa é simples, mas, tal qual um bom Metal Gear, há reviravoltas dantescas que acabam envolvendo o “ministério da magia” dos Estados Unidos, um poderoso bruxo e todo um cuidado para não se tornarem descobertos pelos Não Maj (os populares Trouxas na Inglaterra). Falar mais que isso sobre a trama seria estragar a experiência de você que está lendo.
Mas, é necessário declarar que seria extremamente comum um elenco, ainda que estelar como desta película, ficar nas sombras diante de Redmayne, entretanto, somos mais uma vez surpreendidos de forma positiva. O elenco tem uma química invejável e é surpreendente como em um filme de “origem” já estejam tão envolvidos uns com os outros. É como se estivéssemos acompanhando uma sequência e reencontrando nossos personagens queridos tamanha a conexão entre os atores/personagens. Mérito do roteiro também que faz com que os destinos da atrevida Tina (Katherine Waterston), sua estonteante irmã Queenie (Alison Sudol), o imponente Percival Graves (Colin Farrel) e o perturbado Credence (Ezra Miller) se entrelacem de forma natural e crível. Tudo dentro da trama funciona de forma orgânica e natural, sem aquela forçada de barra típica e muitas vezes enfadonha de filmes de origem.
Devo destacar também a apresentação do filme, praticamente impecável, criando uma Nova Iorque da década de 20 convincente. E ainda que rodeada de magia, tão confortável para os fãs da da saga, não deixa de parecer real em momento algum. Os animais fantásticos, veja só, são realmente fantásticos e de encher os olhos por suas peculiaridades e tamanho cuidado com os detalhes. A trilha sonora é a cereja deste ótimo bolo. Composta por James Newton Howard (Uma Linda Mulher / Saga Jogos Vorazes) não deixa a peteca cair e mantém o tom mágico. Para não dizer que só fui elogios, o filme peca no quesito ritmo em seus minutos iniciais e demora um pouco para engrenar de vez.
Animais Fantásticos e onde Habitam nos entrega uma genuína aventura do universo de Harry Potter, mas, com um bem vindo ar maduro e adulto, mas, sem perder toda sua magia e possibilidade de entreter também os mais jovens. E neste novo mundo orgânico que J.K.Rowling criou, temos uma história que parece ressaltar nosso momento político mundial atual e a aventura a todo momento nos lembra que ódio, preconceito e segregação só nos afasta e traz dor.
No início de uma nova saga tão deliciosa de assistir, só nos resta ficar felizes por ser o primeiro filme de cinco.