A EVO (Evolution Championship Series) sempre traz momentos inesquecíveis para os fãs de fighting games. Mas, geralmente, esses momentos são focados dentro do ring de batalha. Não que o episódio 2016 não tenha tido epopeias homéricas e muita tecnicidade. Tiveram sim. Em todos os jogos que lá estiveram, seus competidores fizeram bonito e o número de pessoas assistindo via streamings foi extremamente positivo. Mas, como já havíamos alertado, o sucesso dos E-Sports está chegando a um novo patamar e elevando nosso hobby a uma nova condição perante ao mainstream. Vamos ver o quão positivo pode ter sido a cobertura de um veículo de massa e como foram as finais de Street Fighter V que a ESPN transmitiu.
A cobertura na ESPN
A ESPN2, o segundo canal da rede ESPN, foi quem ficou responsável pela transmissão televisiva. Tivemos duas coberturas, a original americana e tivemos uma transmissão local também, brasileira. O grande destaque da cobertura americana foi ter optado por personalidades da comunidade de Street Fighter V para fazer a narração, comentários e reportagem. Os escolhidos foram Seth Killian, Mike Ross e Gootecks. Decisão acertada, já que aqueles que já acompanham os torneios há anos via streaming sentiram-se em casa e o mais importante com uma opinião de quem entende das mecânicas, da comunidade e do metagame do jogo.
Ainda que eu tenha assistido um pouco no formato original, confesso que estava extremamente curioso para ver como a cobertura brasileira iria se comportar. É bem verdade que temos uma cultura muito auto-crítica e que adora idolatrar conteúdo gringo e inferiorizar nosso material por maior que seja a qualidade ofertada, vide nossa dublagem que é uma das melhores do mundo e ainda assim possui doses de controvérsia pelos brasileiros. Tirarei da frente o pior: a cobertura brasileira não foi perfeita. A razão para isso é que nossa cobertura não estava com o áudio do game como estamos acostumados a ver em streamings. É bem verdade que a americana começou com o mesmo problema, mas, depois resolveram por lá. Aqui tivemos ausência de sons ingame por toda cobertura.
Felizmente os defeitos ficam só neste quesito técnico. A dupla brasileira de narrador e comentarista impressionaram positivamente. Eloquência, bom humor, conhecimento, ótimas tiradas e tempero brasileiro. Poderia dizer que qualquer jogador de SF V ficou a vontade, mas, seria mentira. A verdade é que qualquer nerd se sentiu a vontade com a dupla. Tivemos referência a Cavaleiros do Zodíaco, Magic (o jogo de cartas), League of Legends, expressões locais e muito mais. Ainda na primeira luta (Fuudo Vs. MOV) o coração nerd sorriu ao ouvir o comentarista dizer: “que farofada foi essa?“. “Farofa” é um termo da comunidade de SF V e dos fighting games que é quando o adversário faz inputs aleatórios para tentar acertar algo. Os narradores não contentes em usar o termo de forma feliz, eles ainda explicavam, permitindo que novatos se sentissem a vontade também. Ali me convenceram e percebi que estávamos bem representados.
Em termos de resultados, eu diria que pode ir se acostumando as coberturas de eventos grandes como a EVO. A audiência apurada ultrapassou os 200 mil. Importante frisar aqui que a ESPN 2 é, como o número indica, o segundo canal da emissora. Os programas que são considerados de maior audiência passam no canal primário da emissora. E há mais um detalhe: a ESPN sequer é o canal esportivo de maior audiência. E não se esqueça que ainda tivemos os canais de streaming convencionais.
Pois é: 200 mil.
As finais de Street Fighter V
A cobertura televisiva agradou e trouxe resultados. Ótimo para nós que adoramos o Planeta Gamer. Mas, você quer saber como foram as finais, certo? Vamos, então a uma crônica das finais da EVO de 2016 em SF V.
Não tivemos a representação da maior parte do cast nas finais como temos de costume nos torneios da Capcom Pro Tour. Na verdade de todo o elenco atual (20 personagens), tivemos 5 entre os oito melhores. São eles: Ken, Chun-Li, Vega, Mika e Nash. Mas, isso não diminuiu a tecnicidade apresentada nestas finais que mais parecia um evento asiático. Ainda que em solo americano só tivemos a representação de um ocidental: LI Joe e sua simpática mochila rosa. E que representação. Cheio de personalidade, tal qual os maiores business men, seduziu toda a platéia ao redor do mundo com sua reação espontânea e agitou toda a arena. Era um refresco emocional diante de tanta frieza asiática. Mas, Joe não estava sozinho, teve uma ajuda providencial em seu carisma: seu pai e seu estilo texano estava na plateia e vibrava muito a cada golpe acertado do filho. E quando ele conseguiu sua vitória, então? Foi parar nos braços do pai e confesso ter marejado os olhos com suor masculino e lutador. Relações entre pai e filho mexem comigo. Um dos momentos EVO com toda certeza.
A arena estava linda e tinha toda aura de grande evento dos esportes. Isso era nítido a cada entrada dos players. Entravam com pompa, sendo ovacionados e batendo nas palmas de seus torcedores. Nem mesmo a gafe de GO1-3151 conseguiu atrapalhar as entradas. Mas, o grande destaque neste quesito foi um MOV cheio de nervosismo, nervosismo esse que só ficou mais aparente ao tirar um oxigênio em cilindro para ajudar a respirar. Se você sente frio na barriga ou vontade de ir ao banheiro quando disputa seus torneios locais não se sinta triste. Há aqueles que precisam de uma dose de ar extra.
Yukadon e Infiltration protagonizaram um belo embate de Nashs. Mas, ainda que o primeiro seja o melhor Nash do Japão é complicado enfrentar o melhor do mundo. Entretanto, o Rei logo parecia que ia perder seu trono ao enfrentar a excelente Mika de seu colega de equipe: Fuudo “Harry Potter”. Infiltration parecia perdido em batalha, chegou a levar Perfect de seu companheiro. Mais perdido que ele estavam seus fãs ao redor do mundo. Parecia que a superioridade havia se perdido. Primeiro Tokido o superou semanas antes em torneio pré-EVO e agora na primeira EVO de Street Fighter V, também primeira a ser televisionada, o Sul-coreano tombava. Ao ser jogado pras loosers ele encararia mais uma mirror com Yukadon. Uma luta extremamente divertida, diga-se de passagem. O mesmo personagem. Formas completamente distintas de jogar. E apesar da valentia do japonês, estava escrito que os colegas de equipe deveriam deixar a amizade de lado e lutar pelo tudo ou nada na grande final.
Você pode assistir a grande final no vídeo acima. E vai constatar que algo mudou completamente de uma luta pra outra. Algo estava mais completo. Em pouco tempo, Infiltration devolveu o Perfect. Parecia mais focado. Mas, não o impediu de perder a primeira luta. Mais duas vitórias e Fuudo seria o grande campeão da EVO.
Ainda que a Mika tenha uma roleta russa de possibilidades, eram os footsies e traps de Nash que determinava o andamento da partida. Outro Perfect. Delírio dos fãs. E Infil mostrava a todos que Nash precisa de muito backdash e também dos Dashs. Um zoning impecável. Outro Perfect. O monstro saia da jaula. O Rei parecia ter voltado. Fuudo nervoso deixava seu jogo bem mais exposto. O Reset aconteceu sem grandes problemas.
Agora era pra valer. Mas, em um anti-clímax atípico de qualquer EVO as finais foram tranquilas para o Rei. A uma vitória do título ele erguia o dedo pra platéia como quem tem certeza do resultado: “Só falta mais uma“. Fuudo ainda resistiu bravamente. Fez 2×1 e insinuou que iria gerar outro momento EVO, mas, não deu pra ele. O grande campeão da EVO 2016 demonstrou que continua insuperável. Ninguém domina Street Fighter V como Infiltration.
O download estava completo!
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